sexta-feira, 19 de julho de 2013

complexo

Retirei meu óculos e vi de outro ângulo o que já havia percebido: o brilho.
Enquanto tento buscar longe o que possa se destacar, encontro perto, o olhar.
Em meio a tanta rotina complicada surge tempo para sentir saudade daquilo que talvez poderia voltar, mas não vai.
E no centro da saudade, tal qual eu escondia por trás do óculos, se fez revelante quando os tirei para te ver.
e vi seus olhos escuros e grandes, brilhando.

domingo, 26 de maio de 2013

ser e saber

Vi o vento soprar
e a noite descer.
Ouvi o grilo saltar
na grama estremecida.

Pisei a água
mais bela que a terra.
Vi a flor abrir-se
como se abrem as conchas.

O dia e a noite se uniram
para ungir-me.
O enlace de luz e sombra
cingiu os meus sonhos.

Vi a formiga esconder-se
na ranhura da pedra.
Assim se escondem os homens
entre as palavras.

A beleza do mundo me sustenta.
É o formoso pão matinal
que a mão mais humilde deposita
na mesa que separa.

Jamais serei um estrangeiro.
Não temo nenhum exílio.
Cada palavra minha
é uma pátria secreta.

Sou tudo que é partilha
o trovão a claridade
os lábios do mundo
todas as estrelas que passam.

Só conheço a origem:
a água negra que lambe a terra
e os goiamuns à espreita
entre as raízes do mangue.

Só sei o que não aprendi:
o vento que sopra
a chuva que cai
e o amor.

(IVO, Lêdo)

terça-feira, 30 de abril de 2013

liberdade

Dez pras seis meu despertador toca
penso em ficar deitada e voltar a dormir
mas algo me toca,
como um sentimento chamando para ser liberado.
Me levanto e coloco uma roupa qualquer,
pego apenas meu celular para acompanhar o horário do dia.
Lá fora havia neblina mas não era frio,
com o vento que soprava,
trazia o cheiro da maresia abrindo o caminho pela manhã.
Acompanhei o cheiro e fui de encontro ao mar,
não esperava que ao chegar na beira da praia iria ficar tão....
feliz.
Na beirada só se encontrava pescadores com suas redes,
no mar, apenas ondas calmas que quebravam próximas à beira.
Água verde.
Me sentei em uma duna e esperei para ver o nascer do sol.
Logo, surgiu aurora com seu eterno brilho no final do oceano.
Ou pelo menos o que pensamos ser o final dele.
Era um quadro de um artista ou era mesmo uma das belezas desse mundo?
Logo, começo a caminhar na beira mar e me deparo com três cães
brincando felizes atrás de gaivotas.
Eles, mesmo sem ter amor e estarem abandonados sabem como serem felizes
apenas com o necessário, a liberdade.
Não é o amor quem traz completamente felicidade, e sim, sentir-se livre.

domingo, 21 de abril de 2013

aurora

Se a vida continuar te trazendo para meu canto na montanha 
eu vou arriscar, 
vou deixar o sol brilhar no ponto mais alto 
pois a vista da paisagem ao teu lado é melhor ao amanhecer.
 "Os caminhos irão continuar se cruzando pois foi feito pra dar certo". 
Encontrado num pedaço de papel, 
em baixo de uma pedra
uma frase que dizia o que eu já sabia que iria acontecer.
 Ao ler e olhar para teu sorriso onde aurora refletia,
 no fundo com a paisagem de um céu azulado escutava-se o canto da liberdade.
 Foi então que tudo se encaixou e transformou o imutável em algo impossível.
Com um beijo que marcou o momento como eterno, sem mudaças ou planos que interferissem no momento. 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Retrato em branco e preto

Já conheço os passos dessa estrada,
sei que não vai dar em nada,
seus segredos sei de cor.
Já conheço as pedras do caminho
e sei também que ali sozinho
eu vou ficar, tanto pior.
O que é que eu posso contra o encanto
desse amor que eu nego tanto,
evito tanto,
e que, no entanto,
volta sempre a enfeitiçar
com seus mesmos tristes velhos fatos,
que num álbum de retratos
eu teimo em colecionar.
Lá vou eu de novo como um tolo
procurar o desconsolo
que cansei de conhecer.
Novos dias tristes, noites claras,
versos, cartas, minha cara,
ainda volto a lhe escrever
pra lhe dizer que isso é pecado,
eu trago o peito tão marcado
de lembranças do passado
e você sabe a razão.
Vou colecionar mais um soneto,
outro retrato em branco e preto
a maltratar meu coração.

(Chico Buarque)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

canção da flor

A sete palmos do chão encontrei uma flor.
Nela havia um aroma que desfazia o temor
entre minhas mãos.
Ao tocar as pétalas, ásperas e cheirosas encontrei um inseto,
pequeno, vermelho, longas asas e com imensos olhos.
O mesmo inseto voou.
Pousou em meu ombro e fez uma canção.
Uma canção tão bela que prometi guardar em segredo,
depois de tanto tempo decidi então esquecer isto em vão.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Orvalho

Odeio esse cheiro de orvalho
no inverno que se faz,
que junto com seu aroma 
traz lembranças,
que desatam os nós.
Que embaraçam os olhos.
Que crescem e machucam ao longo de cada inverno.
A lembrança de um amor que partiu e que pretende não voltar.
A lembrança que virá para esfriar ainda mais,
esse inverno que se fez em mim.